O tempo que fiquei no centro cirúrgico demorou mais do que o esperado. Fiquei sabendo depois. Essa cirurgia foi para retirar um pólipo (não canceroso) que estava envolvendo o revestimento do intestino. O fato é que ele estava grande demais. Fiquei sabendo também que durante o processo cirúrgico o aparelho que iluminava a parte interna do meu corpo parou de funcionar. Agora eu penso; será que foi aí que recebi aquelas visitinhas?
Escuridão total. Tensão...
E eu lá... flutuando...
Felizmente eu estava em boas mãos. Uma das especialidades do meu marido é terapia intensiva e por mais de 15 anos ele chefiou uma UTI. O Dr. Paulo Henrique é um cirurgião competente e eu estava totalmente segura em suas mãos. Então, tudo foi resolvido e volto ao ponto que parei na postagem anterior. Porque é sobre isso que quero falar aqui. Como um paciente é tratado dentro de um hospital.
Voltando...
Eu estava na UTI.
Sentia um sono estranho, parecia superficial. Acho que eu estava dopada com os medicamentos. Ouvia e entendia tudo que as pessoas falavam. Só os meus olhos que continuavam pesados. Havia uma iluminação forte no lugar, talvez isso tenha me incomodado.
Estou deitada e com uma sede terrível. Mas não posso beber água. Fizeram uma "bonequinha" com gaze e uma espátula de madeira para molhar minha boca de vez em quando. Eu tinha vontade de engolir essa "boneca" molhada tamanha era minha sede.
Lá estou eu, meio sonolenta, quando ouço uma voz forte:
- Meu nome é Leandro e hoje eu sou o enfermeiro responsável pela senhora.
Abro os olhos e vejo um cara de mais ou menos 1,80metro de altura por 2.20m. de largura. Moreno e com uma expressão forte no rosto.
Ele continua:
- Agora nós vamos levantar e tomar banho.
Penso: Nós quem cara pálida?
Sem que eu pudesse falar nada, mesmo porque eu não estava com a menor vontade de interagir, ele levantou a cabeceira da cama, me pegou no colo junto com mais "um trilhão de fios" e me colocou sentada em uma cadeira especial. Soltou o laço da "camisolinha" que estava preso no meu pescoço e me levou para o banheiro me dizendo: - Não se sinta constrangida. Estou acostumado com todo esse processo.
Penso: Mas eu não, cara pálida! Quem é você? E quem disse que quero tomar banho com um homem estranho?
Mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa ele puxou a camisola e me enfiou uma touca e abriu o chuveiro. A água caiu bem em cima da minha cabeça. Minha vontade era de não existir... gostaria também que o 1.80x2.20, a cadeira, a bonequinha e tudo que estava em volta não existisse.
O cara esfrega minhas costas, braços e pernas... Olho para frente e vejo a porta completamente aberta e o pior... vejo meu marido parado olhando a cena toda... Ai meu Deus!
Porque as pessoas que trabalham nesses lugares acham que ninguém precisa de privacidade?
Banho tomado, camisolinha limpa e volto para a cama. Completamente calada.
Pouco tempo depois ouço um grupo de enfermeiros dizer que vão jantar.
Durmo um pouco e acordo com o som alto da televisão. O posto da enfermagem era bem de frente da minha cama. Haviam duas enfermeiras que assistiam TV. e comentavam sobre a novela. De repente o meu monitor dispara e dá o sinal que meu soro acabou. Escuto uma delas dizer: - Depois não querem que eu fique doida com o barulho desses aparelhos. Dizendo isso ela aumenta o som da TV. Chamo por elas, chamo pelo 1.80x2.20 e nada. Fico um tempo quieta e faço uma nova tentativa. Uma delas vem e eu digo que meu monitor disparou e ela sem se aproximar me diz que não é o meu e sim o do paciente ao lado. Olho para o soro e vejo que não tem nem uma gota e ouço o monitor gritando, mas fico quieta. Um tempo depois chega outra enfermeira e diz: Seu soro acabou, vou colocar outro. Peço que ela abaixe o volume da TV. Me olha de cara feia e logo depois desliga aquele barulho infernal. Graças a Deus!
Várias coisas aconteceram nesta noite. Coisas inacreditáveis. Pacientes mal cuidados, enfermeira que ficava o tempo todo com o celular tocando funk ou axé. Funcionários que reclamavam do seu próprio trabalho, conversas, barulhos, documentos perdidos... e podem acreditar, teve até um parabéns cantado por todos eles em alto e bom som. Quando saí da UTI vi por todos os lados por onde passei uma placa que dizia - Silêncio - É brincadeira!
Mas no quarto não foi diferente não. Demoras, mal atendimento, enfermeiras de scarpin e bem vestidas que nunca estavam presente. Tive o braço todo picado por um atendente, não sei se é assim que são chamados, na verdade, poderia ser servente... pedreiro ou qualquer outra denominação... mas nunca enfermeiro. Ele tentava puncionar minha veia. Até eu pedir para que ele não me tocasse mais. Depois fiquei sabendo que a agulha que ele usava era inadequada, grossa demais. Não estou brincando, fiquei com trauma de agulhas. O soro que me colocaram ficou uma noite e uma manhã sem sair do lugar. E todas as enfermeiras de scarpim acharam isso normal. Quando tive alta nem acreditei. Queria abraçar e beijar meu médico por me libertar daquele lugar.
Em casa eu me sentia segura e bem. Quando no dia seguinte acordei com febre entrei em pânico com receio que eu fosse ter que voltar ao inferno.
Graças a Deus isso não foi necessário!
Escuridão total. Tensão...
E eu lá... flutuando...
Felizmente eu estava em boas mãos. Uma das especialidades do meu marido é terapia intensiva e por mais de 15 anos ele chefiou uma UTI. O Dr. Paulo Henrique é um cirurgião competente e eu estava totalmente segura em suas mãos. Então, tudo foi resolvido e volto ao ponto que parei na postagem anterior. Porque é sobre isso que quero falar aqui. Como um paciente é tratado dentro de um hospital.
Voltando...
Eu estava na UTI.
Sentia um sono estranho, parecia superficial. Acho que eu estava dopada com os medicamentos. Ouvia e entendia tudo que as pessoas falavam. Só os meus olhos que continuavam pesados. Havia uma iluminação forte no lugar, talvez isso tenha me incomodado.
Estou deitada e com uma sede terrível. Mas não posso beber água. Fizeram uma "bonequinha" com gaze e uma espátula de madeira para molhar minha boca de vez em quando. Eu tinha vontade de engolir essa "boneca" molhada tamanha era minha sede.
Lá estou eu, meio sonolenta, quando ouço uma voz forte:
- Meu nome é Leandro e hoje eu sou o enfermeiro responsável pela senhora.
Abro os olhos e vejo um cara de mais ou menos 1,80metro de altura por 2.20m. de largura. Moreno e com uma expressão forte no rosto.
Ele continua:
- Agora nós vamos levantar e tomar banho.
Penso: Nós quem cara pálida?
Sem que eu pudesse falar nada, mesmo porque eu não estava com a menor vontade de interagir, ele levantou a cabeceira da cama, me pegou no colo junto com mais "um trilhão de fios" e me colocou sentada em uma cadeira especial. Soltou o laço da "camisolinha" que estava preso no meu pescoço e me levou para o banheiro me dizendo: - Não se sinta constrangida. Estou acostumado com todo esse processo.
Penso: Mas eu não, cara pálida! Quem é você? E quem disse que quero tomar banho com um homem estranho?
Mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa ele puxou a camisola e me enfiou uma touca e abriu o chuveiro. A água caiu bem em cima da minha cabeça. Minha vontade era de não existir... gostaria também que o 1.80x2.20, a cadeira, a bonequinha e tudo que estava em volta não existisse.
O cara esfrega minhas costas, braços e pernas... Olho para frente e vejo a porta completamente aberta e o pior... vejo meu marido parado olhando a cena toda... Ai meu Deus!
Porque as pessoas que trabalham nesses lugares acham que ninguém precisa de privacidade?
Banho tomado, camisolinha limpa e volto para a cama. Completamente calada.
Pouco tempo depois ouço um grupo de enfermeiros dizer que vão jantar.
Durmo um pouco e acordo com o som alto da televisão. O posto da enfermagem era bem de frente da minha cama. Haviam duas enfermeiras que assistiam TV. e comentavam sobre a novela. De repente o meu monitor dispara e dá o sinal que meu soro acabou. Escuto uma delas dizer: - Depois não querem que eu fique doida com o barulho desses aparelhos. Dizendo isso ela aumenta o som da TV. Chamo por elas, chamo pelo 1.80x2.20 e nada. Fico um tempo quieta e faço uma nova tentativa. Uma delas vem e eu digo que meu monitor disparou e ela sem se aproximar me diz que não é o meu e sim o do paciente ao lado. Olho para o soro e vejo que não tem nem uma gota e ouço o monitor gritando, mas fico quieta. Um tempo depois chega outra enfermeira e diz: Seu soro acabou, vou colocar outro. Peço que ela abaixe o volume da TV. Me olha de cara feia e logo depois desliga aquele barulho infernal. Graças a Deus!
Várias coisas aconteceram nesta noite. Coisas inacreditáveis. Pacientes mal cuidados, enfermeira que ficava o tempo todo com o celular tocando funk ou axé. Funcionários que reclamavam do seu próprio trabalho, conversas, barulhos, documentos perdidos... e podem acreditar, teve até um parabéns cantado por todos eles em alto e bom som. Quando saí da UTI vi por todos os lados por onde passei uma placa que dizia - Silêncio - É brincadeira!
Mas no quarto não foi diferente não. Demoras, mal atendimento, enfermeiras de scarpin e bem vestidas que nunca estavam presente. Tive o braço todo picado por um atendente, não sei se é assim que são chamados, na verdade, poderia ser servente... pedreiro ou qualquer outra denominação... mas nunca enfermeiro. Ele tentava puncionar minha veia. Até eu pedir para que ele não me tocasse mais. Depois fiquei sabendo que a agulha que ele usava era inadequada, grossa demais. Não estou brincando, fiquei com trauma de agulhas. O soro que me colocaram ficou uma noite e uma manhã sem sair do lugar. E todas as enfermeiras de scarpim acharam isso normal. Quando tive alta nem acreditei. Queria abraçar e beijar meu médico por me libertar daquele lugar.
Em casa eu me sentia segura e bem. Quando no dia seguinte acordei com febre entrei em pânico com receio que eu fosse ter que voltar ao inferno.
Graças a Deus isso não foi necessário!
3 comentários:
Edilene,momentos como esse nos mostram o quão frágeis somos,como perdemos tempo com coisas banais...como a nossa casa,a nossa família,os amigos são importantes.
Como é bom viver a vida,não é?
Um doce beijo,
Concordo com a Milena. Precisamos agradecer e curtir nossas frágeis vidas ao máximo.
Beijos
Compreendo perfeitamente...já tive esse prazer...rsrs
Sei exatamente qual a sensação de o seu corpo não pertencer a vc...me lembro dos banhos que me deram e as vezes que me limparam...e da gratidão que senti por toda ajuda que recebi(fui muito bem atendida, sem traumas)
Sei bem que a vida no hospital tem 24h, pra quem está trabalhando, não tem dia nem noite, nem dor, nem paciência pela dor dos outros...
20 anos se passaram e estou livre desde então do tumor no pâncreas! Sem traumas, no regrets...mas nunca mais esqueci que meu corpo, por uma fração de segundos, pode não pertencer mais a mim!!
Boa recuperação, e de cadeira te digo que leva 2 anos pras dores físicas e mentais deixarem de existir!
Força na peruca!
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