28/02/2011

Rishikesh

Meu marido nos esperava na estação de Haridwar. Entramos no carro e viajamos por mais uma hora e meia. Quanto verde! Muitas montanhas com árvores altas. Dizem que elefantes selvagens e macacos andam livres por elas. Durante o percurso, vejo alguns swamis com seus trajes laranjas. Estamos bem ao norte da Índia e, por este motivo, faz muito frio nesta época. Rishikesh é considerada a cidade de Shiva, símbolo da Transformação, é também a terra de Hanumam, um guerreiro metade homem, metade macaco. . As lendas parecem se tornarem reais aqui neste cenário, onde o reverenciado Rio Ganges corre livre e limpo, onde montanhas verdes e exuberantes abrigam templos e cavernas, onde a busca pelo saber é verdadeira e constante, onde o "despertar espiritual" muitas vezes, para alguns, se torna real.
Chegamos ao asharam Parmarth Niketan, aqui meu marido está hospedado e é onde vamos ficar por duas semanas. Todos os anos durante um mês, meu marido e um grupo de alunos se hospedam neste lugar.  Ele e outros profissionais da área, ensinam a arte da medicina ayurvédica.
Eu estranho a tranquilidade e o silêncio. Ficamos um dia inteiro sem sair dos quartos, descansando e nos recuperando dos "perengues" e encantos de nossas viagens pelo Rajastão.
No dia seguinte, andando pelas redondezas, me lembrei dos filmes de épocas medievais, ruazinhas estreitas, ora fechadas e cobertas por um único "teto", ora ao ar livre, cercadas por pequenos comércios. O movimento constante de pessoas locais, turistas,vacas, macacos e cachorros davam vida ao cenário, que parecia ter parado no tempo. Músicas ao fundo, vindas das lojas ou dos ashrans reforçava essa ideia. Mas a impressão se quebrava ao ouvir o barulho dos motores e das buzinas das motos. Aliás, nesta região, afastada do centro de Rishikesh, não é permitido trânsito de carros ou rikishós, só de motos e bicicletas. Estamos em uma parte da cidade, como se fosse um bairro "tranquilo", onde estão concentrados os vários ashrans e escolas de yoga.
Observo que ao contrário dos outros lugares, não se vê os saris coloridos. Novamente vejo os tons terrosos, os beges e os marrons. Agora essas cores fazem parte não só das vestimentas masculinas como também das femininas. Mas a cor laranja se faz presente a todo momento. Ela colore os corpos dos swamis e sadhus, que estão por toda parte.
Sinto o ambiente diferente. Talvez seja essa energia do querer saber, das orações em forma de mantras, dos vários rituais sagrados que acontecem todos os dias, várias vezes por dia e em vários ashrans.
Perece óbvio, mas me surpreendo quando vejo que todos conhecem meu marido e minhas filhas. Eles se cumprimentam como se fossem velhos amigos... Onde eu estava durante todo esse tempo!? Por que demorei tanto para sentir vontade de vir à esse lugar!? Enfim...  aqui estou eu agora!
Depois de algum tempo na Índia, você começa a se acostumar com algumas "estranhezas". Já não se assusta quando ratinhos passam correndo por entre seus pés nos restaurantes, ou quando caem do teto à um milímetro do seu prato. Já não torce o nariz com os cheiros, muitas vezes misturados. Olhar para o chão e desviar já é coisa comum. Comum também é a convivência com os animais. Mas o número grande de vacas nas ruas e muitas delas machucadas, me chamam a atenção.
Pergunto ao meu marido:
Por que essas vacas ficam soltas pelas ruas?
Não têm donos?
Por que dormem no cimento e por que comem lixo?
Ele responde:
São "vacas de rua", assim como existem os cachorros de rua.
Humm! Não sei não!
Observei durante algumas caminhadas longas, que existem muitas fazendinhas por perto, com criações, espaço, muito verde e muita água. Por que não levá-las para um desses lugares, já que não têm donos. Tenho pena! Vê-las machucadas e mal cuidadas, é de cortar o coração!
Mas tenho para mim, que os próprios comerciantes colocam essas vacas nas ruas, para trazerem boa sorte pros seus negócios. Eles são muito superticiosos. Todos os dias pela manhã, colocam na entrada dos comércios e até nas residências, um fio com pimentas verdes e limões. Segundo o que dizem, espanta energias ruins.
Enfim!
Com o tempo, começo a me acostumar também com as "vacas de rua", com os macacos, com os copos mal lavados, com turistas se vestindo como hippies da década de 70...
Acho que estou ficando zen!
Todos os dias às 17 horas, inicia-se um ritual sagrado nas margens do Ganges. De frente as escadarias que levam ao rio, uma imensa estátua de Shiva, sentado na postura de lotus, se mostra imparcial e sereno. Esta imagem rouba a cena, e por instantes, você se pega fitando-a descaradamente. Pessoas lotam o lugar, qualquer um pode participar. Crianças que estudam no Parmarth, entoam mantras com disciplina e devoção. Eles participam ativamente da cerimônia. Algumas vezes, estive presente nestes rituais. A energia é boa, mas confesso que não consegui sentir "aquele fervor espiritual". Lá estava eu, observando o comportamento das pessoas à minha volta. Algumas poucas, pareciam estar envolvidas  de "corpo e alma". E eu certamente não estava incluída nesta minoria. Muitas outras , assim como eu, observavam quem estava à sua volta. Tento não ficar na expectativa de que alguma experiência transformadora vai ocorrer comigo. Apenas, de uma forma tranquila, presto a atenção e sinto o que de real e verdadeiro está acontecendo dentro de mim. Mas não posso negar, aqui me sinto bem, tranquila e feliz.

Estação de Haridwar, carregadores tentando fazer caber no carro as nossas malas. Ufa!

Parmarth Niketan, um dos vários portões e o relógio

As grandes estátuas cheias de simbolismo, estão por toda parte.

Shiva na posição de lótus

O ashram é muito grande,estávamos hospedados neste bloco aí.  O senhor, é um simpático guarda, ele também tem como tarefa, espantar os macacos que rondam por alí em busca de alimentos

Shiva dançante, seus movimentos são graciosos. Achei linda esta estátua!


Alunos do Parmarth, no local onde acontecem os rituais diários.

Oferendas

Rishikesh, vista do alto



Paisagem perto do ashram




Ruas





























Roupas dos turistas


Nalini, Neto e o macaco



Esta era uma ponte móvel, era muito movimentada por isso sempre balançava, pessoas e motos se espremiam lutando por um espaço, sem falar nos macacos que sempre assaltavam quem carregava alimentos. Rs!



Olha aí as "vacas de ruas"

Desviar é preciso






A vaquinha tenta almoçar o colar de flores que adorna uma barraca de refrescos. Foi uma luta!




Um comentário:

Maria Amélia disse...

Finalmente vejo bastante verde. Essa região parece mesmo bem diferente. As estátuas de Shiva são maravilhosas. Continuo adorando sua narrativa. Nem sempre comento mas é por falta de tempo. Continue nos mostrando esse mundo tão diferente. Acho que se quiser vc pode, no futuro, desenvolver a narrativa com mais detalhes, informações e opinião e transformar esses posts em um livro. mt bom. bjs. mamélia