05/04/2011

Segundo dia no "spa"



A combinação do ar ainda fresco e o céu azul, me faz suspirar enquanto caminho pelos gramados em direção a varanda, onde o café da manhã será servido. Alimento-me apenas de uma xícara de água morna com mel e gotas de limão. Hoje começo um processo de desintoxicação. Já na clínica, me serviram um potinho com uma geleia de sabor agradável seguida de dois copos de chá. O sabor é suave, mas não consegui identificar o que era. Minutos depois, em outra sala, o médico me aguarda. Sento-me diante de um balde transparente com indicadores de litros em vermelho. Ouço o que ele me diz sobre o procedimento ao qual vou iniciar. Começo com um processo de desintoxicação estomacal chamado Vamana (vômito terapêutico). Mas não são todos os pacientes que têm que fazê-lo. No meu caso, este procedimento é muito importante. Há uma terapeuta ao meu lado, ela me prepara vestindo-me um avental e me entregando uma toalha.
Um jarro cheio com um líquido repousa em uma mesa ao lado do médico. Ele inicia "a operação" me servindo um copo de chá morno. Sua voz me encoraja a tomar vários outros copinhos de chá, ininterruptamente... por um breve momento penso: O que estou fazendo aqui?
Sinto-me como se fosse um soldado e estivesse em um campo de batalha, sem ter para onde correr ou fugir, tenho que enfrentar a guerra. Armada com a minha coragem e conduzida pelo experiente "comandante" ( no caso o médico) enfrento dois inimigos: um copinho americano aparentemente inocente, que não esvazia nunca e o que está por vir de dentro de mim. Mas, como um bom soldado e sob um persistente comando, vou à luta e pago para ver. Após intermináveis copinhos americanos, que a esta altura, não tem nada de inocente, já saturada, lanço meu primeiro jato forte, seguido por outro e por outros... A voz do "comandante" novamente me conduz e encoraja. E assim, continuo a enfrentar o copinho que não se mantém satisfeito enquanto não coloco todas as minhas amarras para fora. Ele me desafia até que eu me livre de alguns sofrimentos guardados.
Quando termina, fico quieta, absorvendo o bem-estar que este "esvaziamento" me causou. Novamente sou conduzida pelo "comandante", que me leva até outra sala. Sentada, com o coração tranquilo e o estômago vazio, ele se aproxima com um "incensário" de onde exala aromas de fumaça e ervas. Sinto-me como se estivesse no Spa em Bangalore, quando eu imóvel na minha cama, com o tornozelo quebrado, recebia todos os dias, no final da tarde, a visita de um senhor que carregava consigo um incensário gigante. Vestido com um uniforme bege, enfumaçava todo o meu quarto a fim de acabar ou espantar os pernilongos. Impossibilitada de andar, ficava sufocada junto com os pernilongos, tossia a ponto de por meus pulmões para fora. Depois, todo o meu corpo parecia ter sido defumado, exalando o cheiro forte da fumaça.
 Ele, o "comandante", o médico, o meu marido, me deita e me cobre, diz para eu ficar descansando por meia hora e se despede puxando mais o cobertor, assim como um pai carinhoso faz com o filho, me beija na testa e sai. Delicio-me com o prazer de estar neste lugar tranquilo, onde ouço o assobio dos pássaros e o cantar das cachoeiras. Assim, me entrego aos cuidados do médico e das terapeutas, como se a cada término de um procedimento eu recebesse um pequeno e delicado buquê de flores brancas e perfumadas.



Um comentário:

Dayse disse...

Olha o lugar é maravilhoso, me dá vontade de experimentar, mas a parte do vômito, não sei não, odeio a sensação e por fim o ato, acredito que toda a experiência seja válida e seu relato, tanto na viagem como no spar os transporta para a cena.
Boa estada.
Bjs